
Por Natália Lago
O cenário é a Inglaterra de 1984, período em que Margaret Thatcher, então primeira ministra, implantava uma série de políticas conhecidas como “neoliberais” – que implicam, entre outras questões, a retirada de direitos das e dos trabalhadores. Nesse período, ocorreu uma greve de mineradores que mobilizou a muitos e foi bastante reprimida pela polícia; entre os trabalhadores mobilizados, estão o pai e o irmão de Billy Elliot. A família, ainda formada pela avó, mora em uma pequena casa e passa, como o filme faz questão de demonstrar, por sérias dificuldades financeiras. São pobres em um contexto de luta por direitos trabalhistas.
Billy é um garoto de 11 anos que vai à escola, tem amigos, escuta os discos do irmão, cuida da avó e pratica boxe – mas não é lá muito bom nisso. Após acompanhar uma das aulas de balé que as garotas faziam na sala ao lado do ginásio de boxe, ele se interessa em aprender a dançar e passa a frequentar as aulas – a despeito da ideia de que balé é “coisa de menina” ou “coisa de viado”, motivo pelo qual ele é provocado por uns e outros. Seu amigo, da mesma idade, não vê problema; esse mesmo amigo gosta de vestir as roupas da irmã e usar maquiagem, ações que não trazem conflitos para a sua relação com Billy.
Quando o pai de Billy descobre que o filho está fazendo aulas de balé ele o proíbe, sob as mesmas justificativas que associam a prática a uma “coisa de mulher”. Ao longo da história, Billy enfrenta, por um lado, a recusa da família em aceitar que ele dance e a vontade de dar continuidade aos estudos da dança em Londres, e não mais em sua pequena cidade.
Para além das boas atuações, as tiradas cômicas e a ótima trilha sonora, que tem T. Rex e The Clash, o filme dá conta de debater com bastante sensibilidade uma série de questões difíceis como a organização dos trabalhadores em sua luta por direitos e os conflitos (pessoais e coletivos) aí implicados. Mas o central, ao que parece, são as expectativas de gênero e os questionamentos sobre a sexualidade que, articulados, impõem restrições a Billy e ao seu interesse pelo balé.
Por que um rapaz não pode praticar o balé? Por que balé é uma “coisa para meninas”? Por que a masculinidade e a feminilidade são medidas a partir do que as pessoas gostam ou não de fazer? Por que a sexualidade é constantemente acionada em contextos onde a orientação sexual não importa? A sexualidade, para Billy, nem é uma questão colocada. O que vemos é um menino que gosta de dançar e, ao fazer isso, derruba uma série de estereótipos. Em seu esforço para continuar a praticar o balé, Billy demonstra a falta de sentido das premissas que justificam, a partir do gênero, restrições a determinadas práticas para homens ou mulheres.
Billy Elliot
- Reino Unido / França, 2000
- Drama – 110 min.
- Direção: Stephen Daldry
- Roteiro: Lee Hall
- Elenco: Jamie Bell, Julie Walters, Gary Lewis, Jamie Draven
Nunca para seus sonho por alguem